O tema central de
Dom Casmurro é o
ciúme e a tragédia conjugal de Bentinho. A começar pela citação dos imperadores
César,
Augusto,
Nero e
Massinissa, que mataram suas esposas acusadas de
adultério, até a citação do mouro Otelo que matou sua mulher pelo mesmo motivo. Seu primeiro traço de ciúmes surge no
cap. LXII
quando pergunta a José Dias, agregado da casa de sua mãe, quando este
vai visitá-lo no seminário, "Capitu como vai?", ao que o outro
responde: "Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo
enquanto não pegar um peralta da vizinhança que se case com ela…"
[22]
Para Bentinho a resposta foi um baque, já que escreve: "A minha memória
ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante".
[22] De acordo com
Roberto Schwarz, em
Dom Casmurro
"a instância mais dramática está no ciúme, que havia sido um entre os
vários destemperos imaginativos do menino, e agora, associado à
autoridade do proprietário e marido, se torna uma força de devastação."
[23] Contudo, aqui há uma inovação no tema do ciúme presente em outras literaturas: em
Dom Casmurro ele é apresentado do ponto de vista de um marido que se suspeita traído, sem dar margem à versão das outras personagens.
[24]
Outro tema bastante explícito do livro refere-se à sua ambientação:
Rio de Janeiro do
Segundo Império,
na casa de um homem da elite. Críticos escrevem que até a época de sua
publicação foi o livro que "fez a exploração psicológica mais intensa
do caráter da sociedade do Rio de Janeiro".
[26]
Bento é proprietário, cursou faculdade e tornou-se advogado, e
representa uma classe diferente da de Capitu que, embora seja
inteligente, veio de família mais pobre.
[26] O narrador permeia o livro de citações
francesas e
inglesas, hábito comum entre os
aristocratas do
século XIX.
[27]
O contraste entre as duas personagens deu margem à interpretações de
que Bentinho destruísse a figura de sua mulher por ele ser da elite e
ela pobre (ver
Interpretações). Em
Dom Casmurro, o homem é o resultado de sua própria dualidade e incoerente em si mesmo, enquanto a mulher é dissimulada e encantadora.
[3] Assim, é um livro que representa a política, ideologia e religião do Segundo Reinado.
[28]
Segundo Eduardo de Assis Duarte, "o universo da
elite branca e
senhorial é o cenário por onde o narrador-personagem destila seu rancor e desconfiança quanto ao suposto
adultério."
[30] Schwarz escreve que o romance apresenta as relações sociais e o comportamento da elite brasileira da época: de um lado,
progressista e
liberal, de outro,
patriarcal e autoritária.
[23] Outro ponto estudado é que Dom Casmurro é quase incomunicável com Capitu — daí o fato de somente os
gestos e os olhares (e não palavras) da moça lhe indicarem o possível adultério.
[31] Bento é um homem calado e metido consigo mesmo. Um de seus amigos um dia lhe enviou uma carta escrevendo: "Vou para
Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da
Renânia; vê se deixas essa caverna do
Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."
[7] Este
isolamento, que se torna um motivo para ele "atar as duas pontas da vida", é também um dos temas do romance.
[31]
O crítico Barreto Filho, por exemplo, notava ser "o espírito trágico
que enformaria a obra inteira de Machado, guiando os destinos para a
loucura, o absurdo e, no melhor dos casos, a velhice solitária."
[32]
Um dos problemas centrais de toda obra machadiana, e também presente
neste livro, é a questão "Em que medida eu só existo por meio dos
outros?", uma vez que Bento Santiago se torna Dom Casmurro influenciado
pelos acontecimentos dos fatos e pelas ações das pessoas que lhe são
próximas.
[33] Eugênio Gomes
observou que o tema da semelhança física do filho resultante da
"impregnação" da mãe pelos traços de um homem amado, sem que este
gerasse aquele (como acontece entre Capitu, seu filho Ezequiel e o
provável pai Escobar), era um tema em foco na época de
Dom Casmurro (ver
Fontes literárias).
[34] Antonio Candido também escreveu que uma das principais temáticas de
Dom Casmurro é a tomada do fato imaginado como real, um elemento também presente nos contos machadianos.
[35] Assim, o narrador, através de si mesmo, contaria os fatos através de uma determinada
loucura que o faria tomar por
realidade suas
fantasias, expressas em exageros e enganos.
[35]
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