sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Temas

O tema central de Dom Casmurro é o ciúme e a tragédia conjugal de Bentinho. A começar pela citação dos imperadores César, Augusto, Nero e Massinissa, que mataram suas esposas acusadas de adultério, até a citação do mouro Otelo que matou sua mulher pelo mesmo motivo. Seu primeiro traço de ciúmes surge no cap. LXII quando pergunta a José Dias, agregado da casa de sua mãe, quando este vai visitá-lo no seminário, "Capitu como vai?", ao que o outro responde: "Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar um peralta da vizinhança que se case com ela…"[22] Para Bentinho a resposta foi um baque, já que escreve: "A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante".[22] De acordo com Roberto Schwarz, em Dom Casmurro "a instância mais dramática está no ciúme, que havia sido um entre os vários destemperos imaginativos do menino, e agora, associado à autoridade do proprietário e marido, se torna uma força de devastação."[23] Contudo, aqui há uma inovação no tema do ciúme presente em outras literaturas: em Dom Casmurro ele é apresentado do ponto de vista de um marido que se suspeita traído, sem dar margem à versão das outras personagens.[24]
O Rio de Janeiro em 1889.[25]
Outro tema bastante explícito do livro refere-se à sua ambientação: Rio de Janeiro do Segundo Império, na casa de um homem da elite. Críticos escrevem que até a época de sua publicação foi o livro que "fez a exploração psicológica mais intensa do caráter da sociedade do Rio de Janeiro".[26] Bento é proprietário, cursou faculdade e tornou-se advogado, e representa uma classe diferente da de Capitu que, embora seja inteligente, veio de família mais pobre.[26] O narrador permeia o livro de citações francesas e inglesas, hábito comum entre os aristocratas do século XIX.[27] O contraste entre as duas personagens deu margem à interpretações de que Bentinho destruísse a figura de sua mulher por ele ser da elite e ela pobre (ver Interpretações). Em Dom Casmurro, o homem é o resultado de sua própria dualidade e incoerente em si mesmo, enquanto a mulher é dissimulada e encantadora.[3] Assim, é um livro que representa a política, ideologia e religião do Segundo Reinado.[28]
Típica cena familiar carioca dos tempos de Dom Casmurro, em 1891 (Cena de Família de Adolpho Augusto Pinto; artista: Almeida Júnior)[29]
Segundo Eduardo de Assis Duarte, "o universo da elite branca e senhorial é o cenário por onde o narrador-personagem destila seu rancor e desconfiança quanto ao suposto adultério."[30] Schwarz escreve que o romance apresenta as relações sociais e o comportamento da elite brasileira da época: de um lado, progressista e liberal, de outro, patriarcal e autoritária.[23] Outro ponto estudado é que Dom Casmurro é quase incomunicável com Capitu — daí o fato de somente os gestos e os olhares (e não palavras) da moça lhe indicarem o possível adultério.[31] Bento é um homem calado e metido consigo mesmo. Um de seus amigos um dia lhe enviou uma carta escrevendo: "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."[7] Este isolamento, que se torna um motivo para ele "atar as duas pontas da vida", é também um dos temas do romance.[31] O crítico Barreto Filho, por exemplo, notava ser "o espírito trágico que enformaria a obra inteira de Machado, guiando os destinos para a loucura, o absurdo e, no melhor dos casos, a velhice solitária."[32]
Um dos problemas centrais de toda obra machadiana, e também presente neste livro, é a questão "Em que medida eu só existo por meio dos outros?", uma vez que Bento Santiago se torna Dom Casmurro influenciado pelos acontecimentos dos fatos e pelas ações das pessoas que lhe são próximas.[33] Eugênio Gomes observou que o tema da semelhança física do filho resultante da "impregnação" da mãe pelos traços de um homem amado, sem que este gerasse aquele (como acontece entre Capitu, seu filho Ezequiel e o provável pai Escobar), era um tema em foco na época de Dom Casmurro (ver Fontes literárias).[34] Antonio Candido também escreveu que uma das principais temáticas de Dom Casmurro é a tomada do fato imaginado como real, um elemento também presente nos contos machadianos.[35] Assim, o narrador, através de si mesmo, contaria os fatos através de uma determinada loucura que o faria tomar por realidade suas fantasias, expressas em exageros e enganos.[35]

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