Narrado em primeira pessoa, seu personagem principal é o carioca de 54 anos Bento de Albuquerque Santiago, advogado solitário e bem-estabelecido que, após ter reproduzido tal qual, no Engenho Novo, a casa em que foi criado "na antiga R. de Matacavalos" (hoje Riachuelo),
pretende "atar as duas pontas da vida", ou seja, contar na meia idade
seus momentos de moço. No primeiro capítulo, o autor justifica o
título: é uma homenagem a um "poeta do trem" que certa vez o importunou
com seus versos e que lhe chamou de "Dom Casmurro" por ter, segundo
Bento, "fechado os olhos três ou quatro vezes" durante a recitação.[7] Seus vizinhos, que lhe estranhavam os "hábitos reclusos e calados", e também seus amigos próximos, popularizaram a alcunha. Para escrever o livro é inspirado por medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, imperadores que mataram suas esposas adúlteras.[8]
Nos capítulos adiante Bento começa suas reminiscências: conta as experiências que teve quando sua mãe, a viúva D. Glória, lhe enviou para o seminário,
fruto de promessa que ela fez caso acabasse concebendo um novo filho
depois de seu primeiro, que morreu no parto; a idéia foi ressuscitada
pelo agregado José Dias, que conta a Tio Cosme e à D. Glória o namoro
de Bentinho com Capitolina,
a vizinha pobre por quem Bentinho era apaixonado. No seminário,
Bentinho conhece seu melhor amigo, Ezequiel de Sousa Escobar, filho de
um advogado de Curitiba. Bento larga o seminário e estuda direito em São Paulo, enquanto Ezequiel torna-se comerciante
bem sucedido e casa-se com Sancha, amiga de Capitu. Em 1865, Capitu e
Bentinho casam; Sancha e Ezequiel têm uma filha que dão o nome de
Capitolina, enquanto o protagonista e sua esposa concebem um filho que
chamam de Ezequiel. O Escobar companheiro de Bento, que era exímio nadador,
paradoxalmente morre afogado em 1871, e no enterro tanto Sancha quanto
Capitu olham o defunto fixamente, "Momento houve em que os olhos de
Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, [...], como a vaga do mar
lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã",[9] segundo ele.
Logo o narrador começa a desconfiar que seu melhor amigo e Capitu o
traíam às escondidas. Dom Casmurro também passa a duvidar de sua
própria paternidade. Diz ele nas últimas linhas: [...] quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me…[10] O livro termina com o convite irônico "Vamos à História dos Subúrbios",[10] livro que ele, no início do romance, teria pensado escrever antes de ocorrer-lhe a idéia de Dom Casmurro.
A ação do romance passa-se entre 1857 e 1875, aproximadamente, e a
narrativa, embora de tempo psicológico, permite a percepção de algumas
unidades: a infância de Bento em Matacavalos; a casa de Dona Glória e a
família do Pádua, com os parentes e agregados; o conhecimento de
Capitu; o seminário; a vida conjugal; a densificação do ciúme; os
surtos psicóticos de ciúme, agressividade; a ruptura.[11]
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